sábado, 8 de junho de 2013

Homem de R$ 112 mi, Fernandinho entra em 'rota' da Seleção: 'Aliviado'


Fernandinho sabe bem o que é viver o outro lado da moeda. Em 2003, a lesão de Leandro Bonfim deu a ele a chance de ir ao Mundial Sub-20 com a seleção brasileira. Antes encostado, tornou-se peça-chave na conquista do título - inclusive ao marcar o gol da finalíssima contra a Espanha.

A carreira, como o próprio reconhece, decolou a partir dali. Atlético-PR, Shakhtar Donetsk e agora, finalmente, um grande centro do futebol europeu. Na última quinta-feira, o Manchester City confirmou a sua contratação por incríveis € 40 milhões (R$ 112 milhões). O volante de 28 anos é agora uma das 30 maiores transferências da história do futebol e espera que isso signifique a entrada na "rota" de Luiz Felipe Scolari às vésperas da Copa do Mundo no Brasil. Desta vez não por um acidente de percurso.

Em conversa por telefone, Fernandinho deixou claro que acima de qualquer felicidade estava o alívio. Depois da temporada que terminou com mais um título do Shakhtar na Ucrânia, ele abdicou das primeiras semanas de férias para se concentrar no objetivo que se transformou a sua ida à Inglaterra. Quase uma missão, na verdade. Não foi fácil convencer os ucranianos a aceitarem um valor que não fosse o da sua cláusula rescisória (€ 50 milhões).

- Estou aliviado, o ânimo virá depois. A batalha foi grande. Uma negociação intensa, durou vários dias e até abri mão das minhas férias. Todo o pessoal foi embora depois do campeonato. Eu fiquei na Ucrânia para convencer o pessoal a me liberar, pois o valor da minha multa era realmente muito alto, ninguém iria pagar isso. Quando chegou a primeira proposta a resposta foi não. Eu martelei bastante a cabeça do treinador (Mircea Lucescu), dos diretores e até do capitão (Srna). Tive reuniões com o presidente, que me prometeu que conversaria com o City a partir dos € 40 milhões. Finalmente conseguimos chegar nesse valor - disse.

O projeto inglês

Fernandinho, porém, não se apega ao montante como um troféu - é também o quarto mais caro da janela que irá abrir oficialmente em 1º de julho, atrás de Neymar e dos colombianos Falcao García e James Rodríguez. Ele reconhece que o futebol atual está valorizado, ainda mais quando se trata em negociações envolvendo clubes patrocinados por "petrodólares" ou sheiks mundo afora.

- A realidade é que eu tinha um projeto de deixar o Shakthar após esses oito anos. Expus isso a todos lá dentro. Como era muito querido, respeitado pela torcida e dentro do clube, acabaram cedendo. Mas acho que só colocaram esses números lá no alto para saberem a real intenção do City em me contratar. Conhecendo um pouco da cultura ucraniana, eles temiam que alguém chegasse com uma quantia menor e me levasse.

Para a tranquilidade de Fernandinho, dinheiro é algo que não falta ao Manchester City desde que o sheik Mansour bid Zayed Al Nahyan adquiriu o clube em 2008. Com algum atraso, após alguns fracassos não planejados, busca se estruturar. Não apenas em contratações certeiras, mas com um modelo a seguir: o Barcelona dos dirigentes Txiki Begiristain e Ferran Soriano, que hoje vestem a camisa azul.

- O pessoal é muito competente mesmo, não à toa foram responsáveis pelo Barcelona que conquistou quase tudo por cinco, seis anos. Eles fazem um projeto muito legal aqui, estão montando um time muito bom para as próximas temporadas. Fico feliz por depositarem fichas em mim.

Tudo o que quero agora é retribuir dentro de campo com boas atuações, vitórias e títulos. Sei que terminaram o Inglês em segundo, perderam a Copa para o Wigan e na Champions não passaram da primeira fase. Para um time de alto investimento é uma frustração enorme. Mas não vou ficar surpreso se com toda essa mudança, comando técnico, chegada de novos atletas, o City chegar ao topo em dois anos.

- Definitivamente a seleção brasileira foi algo que pesou muito na decisão. Na Ucrânia eu tinha a vida estável, adaptado, adorava o clube. Mas depois que fiquei fora das convocações no início de 2012 e não voltei mais, foi algo que mexeu comigo. E depois surgiu essa oportunidade de me transferir para a Inglaterra. Quis ir porque vai me dar uma visibilidade maior, tanto no Brasil, como na Europa toda também. Com certeza as chances de voltar à Seleção serão muito maiores.

A corrida é também contra o relógio. Scolari tem o grupo praticamente formado - entre os volantes, Paulinho, Hernanes e Fernando parecem garantidos. Além de Luiz Gustavo, que completa o elenco, Ramires, do Chelsea, seria outro concorrente credenciado pelo futebol que ficou fora. Fernandinho se apega ao passado para acreditar que é possível, sim, disputar a Copa no Brasil.

- Posso citar o caso que aconteceu comigo na sub-20. Fui convocado no lugar do Leandro Bonfim, que saiu lesionado e fiz o gol contra a Espanha na final. Estava desacreditado e isso transformou a minha carreira. Podemos citar o caso mais recente do Leandro Damião, cortado, e que deu lugar ao Jô. E se ele surpreender e garantir a vaga no elenco? O futebol nos traz muitas surpresas...

Fernandinho, 'estrela' de cinema

No Shakhtar, Fernandinho ganhou o status de intocável. Melhor: fez por onde. Disputou 284 jogos e marcou 53 gols pelos mineiros, como são conhecidos. Fora os 14 títulos conquistados desde 2005, quando foi vendido pelo Furacão: seis do Campeonato Ucraniano (2006, 2007, 2008, 2010, 2011, 2012, 2013), quatro Copas da Ucrânia (2008, 2011, 2012, 2013) , três Supercopas da Ucrânia (2008, 2010, 2012) e uma Copa da Uefa (2009). O futebol e a dedicação lhe renderam até um filme produzido pelo próprio clube no início do ano.

- Agora a gente conseguiu pôr legenda em português, trouxe algumas cópias para distribuir para a família no Brasil. Mostrou o respeito e o carinho que todos têm por mim lá. Talvez eles já fizeram esse filme pensando que eu fosse sair num futuro tão próximo.

Outro fator que reforça a tese de Fernandinho é a rápida reposição. Embora o Shakhtar não tenha anunciado oficialmente, já há um acordo existente com o Grêmio para a contratação do volante Fernando, de 21 anos. O "xará" do meio-campista, inclusive, disputará a Copa das Confederações com a camisa da Seleção e deverá seguir para a Ucrânia em seguida.

 Lá, encontrará outros nove brasileiros: Ismaily, Alan Patrick, Ilsinho, Douglas Costa, Alex Teixeira, Luiz Adriano, Maicon, Taison e o recém-contratado Wellington Nem. Fora o naturalizado croata Eduardo da Silva.

- Essa questão de adaptação hoje em dia está muito fácil. Há muitos brasileiros no Shakhtar, um ajuda o outro. E na questão tática o jogador já chega aprendendo também. Esses dois meninos (Fernando e Nem) serão bem acolhidos, tenho certeza. E têm tudo para dar muitos frutos ao clube.

O início de julho também reservará a Fernandinho a apresentação em seu novo clube. Depois de um jogo de despedida no Shakhtar, ele se integrará de corpo e alma ao City. As férias serão curtas, a pré-temporada, vilã para muitos atletas, o aguarda... Mas quem disse que isso será exatamente um problema?
- Nesse ano eu vou com o maior prazer (risos) - encerrou.

Fonte:Globo Esporte

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