Relação ruim com alguns jogadores, time sem padrão tático, críticas ferrenhas da torcida. Longe de ser uma unanimidade, Ney Franco não resistiu à derrota para o Corinthians por 2 a 1, na última quarta-feira, pela Recopa Sul-Americana, e, nesta sexta-feira, dia em que completou um ano no São Paulo, foi demitido.
A decisão não foi unânime. O diretor de futebol Adalberto Baptista era contra a demissão, mas acabou sendo voto vencido.
Ele sai com um título (Copa Sul-Americana) e fracassos no Paulistão e na Libertadores. Sob seu comando, o time disputou 79 partidas, conquistou 41 vitórias, 16 empates e 22 derrotas - aproveitamento de 58,6%. Com ele, saem Éder Bastos (auxiliar) e Alexandre Lopes (preparador físico).
No clássico contra o Santos, domingo, no Morumbi, o auxiliar técnico Milton Cruz comandará a equipe interinamente. A diretoria já corre atrás de um substituto e Muricy Ramalho, tricampeão brasileiro pelo tricolor, em 2006, 2007 e 2008, é o nome mais cotado.
Desentendimentos e falta de padrão tático
Substituto de Emerson Leão, Ney Franco teve sua contratação anunciada no dia 5 de julho do ano passado. Chegou respaldado pelo bom trabalho na seleção brasileira sub-20, onde conquistou os títulos sul-americano e mundial da categoria. Foi considerado a peça ideal para dar uma nova cara ao time e ainda trabalhar com os garotos revelados no CT de Cotia.
Durante todo o período, o treinador não conseguiu dar padrão de jogo à equipe. O crescimento no segundo semestre ocorreu muito mais por causa do ótimo momento de alguns jogadores, como Jadson, Osvaldo e Lucas, do que por crescimento tático.
Além do mais, logo no começo do seu trabalho, o técnico se envolveu em polêmica com o capitão Rogério Ceni. Em partida contra a LDU de Loja, do Equador, pela Copa Sul-Americana, o capitão, gesticulando bastante, pediu a entrada de Cícero. O treinador não gostou, colocou Willian José e ainda mandou o recado na entrevista coletiva realizada na ocasião:
- Eu sou o treinador, quem decide sou eu.
Logo depois, o goleiro deu uma entrevista e minimizou a polêmica. Desde então, a relação entre eles se tornou apenas profissional.
Taticamente, Ney Franco demorou meses para perceber que a equipe necessitava de mais um volante. Quando se rendeu às evidências e colocou Wellington, o Tricolor se encontrou, foi o melhor time do segundo turno do Campeonato Brasileiro e conquistou a Copa Sul-Americana.
O time que havia terminado 2012 voando iniciou 2013 em ritmo de tartaruga. Com uma curta pré-temporada, os tricolores atingiram o objetivo inicial e passaram pela fase preliminar da Libertadores ao despacharem o Bolívar, da Bolívia. Na fase de grupos, porém, a campanha foi muito ruim. Em seis jogos, o time venceu duas partidas, empatou uma e perdeu três. Classificou-se como pior segundo colocado e, nas oitavas de final, foi atropelado pelo Atlético-MG, com direito a goleada de 4 a 1 no Independência.
O 'pepino' Ganso
A contratação de Paulo Henrique Ganso se tornou um enorme pepino para o treinador, que sofria com a pressão da torcida e da diretoria para escalar o meio-campista que, dentro de campo, não rendia o esperado. A cada jogo, Ney alternava esquemas táticos por causa da instabilidade do meia. Insatisfeito com os titulares, passou a improvisar bastante, a ponto de escalar o lateral-direito Douglas como ponta esquerda no jogo contra o Atlético-MG, que ocasionou a eliminação na Libertadores.
No Campeonato Paulista, o time não ganhou nenhum clássico, mas terminou com a melhor campanha da fase de classificação. Na semifinal, derrota nos pênaltis para o Corinthians e nova eliminação.
Muito pressionado pela torcida, Ney Franco era respaldado pelo diretor de futebol Adalberto Baptista, que convenceu o presidente Juvenal Juvêncio a dar uma nova chance ao comandante.
Na ocasião, sete jogadores foram afastados: Fabrício, Cortez, João Filipe, Luiz Eduardo, Henrique Miranda, Cañete e Wallyson. Isso azedou ainda mais a relação do treinador com o elenco, já que Fabrício era muito querido pelos companheiros. O experiente volante foi afastado porque se queixou da falta de oportunidades.
Nada fez o São Paulo se encontrar. Antes da parada do Campeonato Brasileiro para a Copa das Confederações, o time perdeu para o Goiás por 1 a 0, no Morumbi, e o treinador escutou a torcida pedir a volta de Muricy Ramalho. Após intertemporada realizada no CT de Cotia,o Tricolor fez um amistoso e perdeu por 1 a 0 para o Flamengo, em Uberlândia. O último ato de Ney Franco foi a derrota por 2 a 1 para o Corinthians, resultado que complicou bastante a conquista da Recopa Sul-Americana.
Insatisfação com auxiliar-técnico
Além da insatisfação com o treinador, o elenco do São Paulo tinha sérias restrições ao auxiliar do técnico, Éder Bastos, responsável pela maioria dos treinos realizados no CT da Barra Funda. Ney Franco também não tinha boa relação com Milton Cruz, funcionário do clube há 15 anos e que é o responsável pelas contratações. Milton é amigo pessoal de Muricy Ramalho, que deverá voltar com tapete vermelho estendido com a missão de colocar a casa em ordem.
Fonte:Globo Esporte
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